Nos últimos dias tenho pensado bastante no poder das palavras, na força que elas têm para tornar belo ou destruir algo ou alguém.
Dou por mim a pensar se todos nós, independentemente da cultura ou da língua em que nos expressamos, temos noção das consequências inerentes de nos assumirmos conhecedores das reações de diferentes pessoas ao mesmo discurso.
Como pessoa teimosa que sou, reconheço que aquilo que depende apenas e só da minha opinião, algo definido por "gosto" dificilmente é alterado por razões externas.
Tenho um quadro que amo de paixão. Podiam vir 100 críticos de arte, amigos ou familiares com os mais variados discursos em relação ao mesmo e tentando dizer-me por A+B que aquele quadro não é belo, valioso ou cheio de significado, que para mim o valor dele se manteria o mesmo. Nenhuma palavra, por pior que fosse, destruiria a beleza e o valor dele, porque é por mim um dado adquirido e só eu própria teria o poder de destruir essa ideia.
Lembro-me também de uma amiga minha que adora o Manekineko e confesso que aquele gato com o braço a abanar me dá arrepios. São opiniões e aí as palavras pouco valem se as pessoas têm os seus gostos bem definidos.
Ainda bem que não temos todos os mesmos gostos, porque isso torna o Mundo e as suas diferentes culturas um lugar apetecível e que nos mantém a sede de descoberta.
No entanto no que diz respeito às relações que mantemos, sejam profissionais, de amizade ou amorosas, considero que todas elas estão presas por um fio e as palavras são como canivetes, que dependendo da sua força ou do momento, cortam de forma certeira essa ligação.
Uns fios são mais fortes, outros menos, umas vezes puxados de um lado e outras vezes puxados de outro. É exactamente esse equilíbrio e o reconhecimento das alturas em que devemos puxar ou ceder que fortalecem as relações que temos ao longo da vida.
Como tenho uma personalidade demasiado honesta, aprendi ao longo dos anos a ponderar o uso das palavras e a dizer apenas aquilo que é necessário e não tudo o que penso, pois existem coisas, que não acrescentam nada às relações e podem causar mal entendidos desnecessários. Há pensamentos que devemos guardar, sob pena de quebrarem o fio que não era forte o suficiente.
Tive um momento na minha vida em que enrolei esse fio sobre mim mesma e no final não tive outra solução senão cortá-lo, quebrando por completo a ligação.
Aprendi então a ponderar cada discurso, a ser cautelosa em relação às pessoas e às situações, aprendi a usar sentimentos apenas e só quando sinto que o chão que piso não é movediço. Isso não invalida que seja querida, amiga, profissional e tudo mais, demonstra apenas uma tática, não infalível, que me defende das armadilhas inerentes às diferentes situações.
Vi-me recentemente numa situação em que, como "espectadora", assisti a alguém enrolar-se no seu próprio fio usando palavras que jogadas ao vento de forma tão impetuosa previam que a sua força transformaria uma simples brisa num tornado que destruiria por completo aquilo que de belo tinha sido construído. Como espectadora nada pude fazer...
Lamento que por vezes as pessoas não pensem nas consequências das palavras, lamento que as palavras tenham um peso tão grande que possam destruir a beleza de algo sem que a pessoa sequer tome consciência disso, ainda que as atitudes sejam tão contrárias às próprias palavras.
Assistir a algo assim, perturba, faz-me reflectir até que ponto os atos são mais valiosos do que as palavras e em que medida se poderá esquecer o poder destrutivo destas deixando permanecer a bela paisagem que vinha a ser construída à minha frente.
Deixo que o tempo me dê a resposta, porque o meu coração não estava ainda a ser usado para amenizar de forma certeira os estragos feitos por uma tempestade.
Permaneço apenas com uma frase na minha cabeça:
"Be careful what you wish for, cause you might get it!"