Foto de João Tuna
"Sombras de Ricardo Pais é e não é teatro. Tem o seu coração no Fado e inclui composições originais de Mário Laginha, mas – ao contrário do que acontecia em Raízes Rurais. Paixões Urbanas (1997) e Cabelo Branco é Saudade (2005) – a lógica dramatúrgica não advém exclusivamente da música. Sombrasassenta num apurado guião de textos onde Frei Luís de Sousa e Castro detêm um valor matricial, e é atravessado pelos nossos fantasmas lendários, o gosto das pequenas histórias, a melancolia das variedades, o vigor do fandango, o prazer cénico de experimentar os opostos, o desdobramento dos olhares sobre nós próprios – e a força percussiva da mais alta literatura dramática. Após a assombrosa recepção em Novembro passado, e antecedendo a apresentação no Théâtre de la Ville (Paris), Sombras reaparece no seu palco originário. Três oportunidades apenas para avaliar da materialidade destes assombramentos e incandescências da nossa natureza teimosa e paradoxal. Definitivamente, como se dizia a propósito de Fados (1994), do mesmíssimo e sempre diferente Ricardo Pais, “a nossa alma é uma coisa concreta”."
"Com Sombras, somos ao mesmo tempo fadistas e fandangueiros, cantando e rindo em cima desses mortos-vivos que edificaram Portugal – mas também em cima do património pessoal e colectivo que, desde Ninguém e Saudades: Um Hetero-Cabaret-Erosatírico, experiências fundadoras de 1978, Ricardo Pais foi construindo, e portanto descontruindo. Sombras – A nossa tristeza é uma imensa alegria é o último capítulo desta descida aos abismos do modo de ser português que nas mãos de qualquer outra pessoa podia ser só uma operação demolidora, mas que nas mãos de Ricardo Pais também tem um efeito regenerador. […] É um dos espectáculos mais complexos de Ricardo Pais – um prodígio de engenharia teatral."
Inês Nadais – Público (19 Nov. 2010)
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