Rothenbaumchaussee 22 - Hamburgo
Um dia ao olhar para uma montra, vi o seu reflexo do lado de lá da rua... Sem pensar, virei-me e observei-o pela primeira vez. Tinha um sorriso terno e um ar que inspirava uma paz que combinava com as cores daquela entrada...Branca!
Sorri-lhe inocentemente e segui o meu caminho.
Depois disso, todos os dias olhava para a porta e lá estava ele, sempre terno e sorridente até que decidi transpor a distância que se fazia longa, apesar de tão curta, e fui-lhe falar.
Assim começou uma rotina diferente e os fins de tarde ganharam uma nova cor, mais forte, que começou a contrastar com a cor branca da sua porta, mas ainda assim sentia-lhe a paz. Mesmo quando o frio se fazia sentir, ele esperava-me com a porta entreaberta atrás de si e eu ouvia a sua voz doce perguntar como tinha sido o meu dia e a falar-me sempre de coisas novas, a contar-me histórias alegres... com ele sentia que crescia a cada dia, era como se as minhas tardes sempre tivessem sido assim, atravessar a rua e parar na sua porta até o sol se pôr.
Até que num dia de Verão em que o pôr do sol se fez mais belo, ao despedir-se, ele olhou-me com um olhar doce e transparente e quase num sussurro disse:
- Amo-te!!
Não consegui evitar a gargalhada de espanto seguida de:
- Amas o quê?! Que tolice!!!
Dei-lhe 2 beijos e segui, deixando-o ainda assim com uma simpatia inigualável.
No dia seguinte encontrei a porta fechada e ela ganhou tons cinza que nunca antes tinha visto, a sua presença já não a senti... e muitos outros dias se seguiram... sem que eu desse pelo passar do tempo ou me apercebesse da chegada do Verão seguinte!
Quem era eu para duvidar daquele amor? Quem era eu para não acreditar na sua sinceridade?
Tudo o que eu tinha desejado até ali tinha sido tão difícil ou quase impossível de alcançar... tinha amado alguém que nunca conseguiu sentir a força do meu sentimento, que nunca me deu oportunidade de entrar... por isso não consegui ver naquela porta entreaberta um convite para entrar, não percebi que ele estava ali todos os dias à espera que eu passasse, mesmo quando ainda nem tinha reparado nele, não acreditei naquele olhar doce e meigo, nem consegui responder-lhe:
- Também te amo!
E bastou um dia para ser tarde demais e para aquela porta se ter fechado e não mais se abrir!
E eu, nunca mais vi um pôr do sol tão belo como naquele dia...
2 comentários:
Nunca... é tarde...
Nunca... não existe...
Acredito... sempre...
Acreditas?
Bj
Claro que acredito, mas nas estórias tudo é possível e acima de tudo, existem momentos em que é preciso que nos conformemos com a realidade...
Nunca, às vezes é o mais certo!
O que escrevi foi apenas uma chamada de atenção para os pormenores que deixamos escapar, para as pessoas que realmente valem a pena. Aí, o nunca traz à tona tudo o que antes não tínhamos parado para pensar, o que não tínhamos feito um esforço para ver. Às vezes é preciso um choque para que tudo se torne nítido...
Bjo grd
P.S. gosto de te ter de volta
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