sexta-feira, 5 de março de 2010

Blackbird


"Quando decidi que queria encenar esta peça, a principal razão foi a de poder estar por perto enquanto dois actores se apoderam lentamente de dois personagens complexos e instáveis, cheios de dúvidas, incertezas e sofrimento. Como profundo admirador do trabalho de actor, pareceu-me sempre que seria um processo enriquecedor. E foi, claramente. Mas foi também preciso passar por todas as zonas escuras com eles, sofrer com eles e perdermo-nos por vezes, arriscando, experimentando, falhando. Ainda bem que tivemos sempre as palavras de David Harrower como mapa do caminho que havia a percorrer. Um mapa rigoroso para um caminho adverso e sombrio em tons cizentos, nunca preto no branco, onde os personagens se contradizem, se explicam, se acusam e que nunca nos deixam o conforto de uma certeza na busca da verdade. Das suas verdades, a de cada um. Verdades infestadas pelos seus percursos e escolhas, e pela forma como o mundo foi interferindo com ambos. Blackbird não nos conduz a nenhuma certeza. E por muito que Ray e Una procurem encontrar respostas um no outro, estão sempre sós na busca incessante de um significado, de uma razão. Como todos nós."
Tiago Guedes

E na verdade, depois de ver a peça, as respostas não são certas, abaladas estão a certezas de sabermos que o adulto é sempre o predador e a presa a inocente criança! Fica-nos a dúvida...

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