domingo, 6 de setembro de 2009

As escolhas... o destino!!

Menschenschlange - Sigmar Polke, Hamburgo

"A ideia do destino é algo que surge com a idade. Quando se tem os anos que tu tens, geralmente não se pensa nisso, tudo o que acontece é como se fosse fruto da nossa vontade. Sentimo-nos como um operário que, pedra sobre pedra, vais construindo à sua frente o caminho que deverá percorrer. Só muito depois é que se repara que o caminho já está construído, que alguém traçou para nós, e que só nos resta seguir em frente. É uma descoberta que costuma fazer-se por voltas dos quarenta anos, então começa-se a perceber que as coisas não dependem só de nós. É um momento perigoso, durante o qual não é raro escorregar-se para um fatalismo claustrofóbico. Para veres o destino em toda a sua realidade, tens de deixar passar mais alguns anos.
Por volta dos sessenta, quando o caminho que percorreste não era a direito mas cheio de encruzilhadas, a cada passo havia uma seta que apontava para um direcção diferente; dali partia um atalho, de acolá um carreiro cheio de ervas que se perdia nos bosques. Alguns desses desvios fizeste-os sem te aperceberes, outros nem sequer os viste; não sabes se os que não fizeste te levariam a um lugar melhor ou pior; não sabes, mas sentes pena. Podias fazer uma coisa e não a fizeste, voltaste para trás em vez de seguir em frente. O jogo da glória, lembras-te? A vida vai avançando da mesma forma.
Ao longo das encruzilhadas do teu caminho encontras as outras vidas, conhecê-las ou não, vivê-las a fundo ou desperdiçá-las depende da escolha que fazes num segundo; embora o não saibas, entre seguir a direito ou fazer um desvio joga-se muitas vezes a tua existência, a existência de quem está perto de ti."
Excerto de "Vai Aonde te leva o coração" de Susanna Tamaro


Quantas vezes não vi esses caminhos... quantas não voltei ao mesmo ponto de partida, só que mais cansada e mais madura, às vezes mais triste outras mais feliz por saber que podia ao menos excluir um dos caminhos. Quantas caras se foram apagando da minha mente e hoje não passam de meros traços abstractos, quantas ficaram e são bem presentes na memória e na vida quotidiana. Gosto desse jogo, gosto da oportunidade que nos é dada de andar para a frente e recuar enquanto é tempo, gosto de cada cicatriz deixada porque me lembra o que me fez doer, afinal a vida é feita disso mesmo, como escrevi noutro dia num e-mail:
"Eu sou igual às outras pessoas.. defeitos e virtudes, alegre e triste, apenas humana!"

1 comentário:

PSousa disse...

A lamentar informar... mas és diferente!
Tu sabe-lo e todos os que te rodeiam, também...

Beijo de saudades e de uma semana a culminar fantasticamente... ;)