sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Breve Sumário da História de Deus

Fonte

Sexta-feira, 21h30 (mais coisa, menos coisa, porque há coisas que já não são o que eram) no Teatro Nacional S. João, começa a desenrolar-se o Breve Sumário da História de Deus.
Surge um anjo que era tudo menos terrível, como havia sentenciado Rilke em 1923. A sua voz entrava no ouvido e chegava ao coração, não fossem as palavra difíceis de descortinar (pelo português "denso").
Procurei nas personagens que surgiram no desenrolar da história, o que mais poderia ter significado para mim nos dias de hoje e sem menosprezo a todos os que existiram e continuam a fazer parte da história, escolho o Tempo.


"E a ti, porém,

manda-te, Tempo, que temperes bem,
este relógio que te dou das vidas
e como as horas forem compridas
de que fez mercê a vida d'alguém,
serão despedidas."

É com ele que o Mundo e Morte se reúnem e ditam aquilo de que é feita a vida de todos nós. É ele que traz a Morte.


"Homem de molher nascido

muito breve tempo vive miserando
e como flor se vai acabando
e como a sombra será consumido."

Lamentou Job, tão conhecido pela sua paciência (Paciência de Job).


O Tempo é também referido em várias passagens da Bíblia, como no Salmo 90, Oração de Moisés:
"(...)Porque mil anos são aos teus olhos como o dia de ontem que passou, e como a vigília da noite.
Tu os levas como corrente de água; são como um sono; são como a erva que cresce de madrugada; de madrugada, cresce e floresce; à tarde, corta-se e seca.
Pois somos consumidos pela tua ira e pelo teu furor somos angustiados.
Diante de ti puseste as nossas iniquidades; os nossos pecados ocultos, à luz do teu rosto.
Pois todos os nossos dias vão passando na tua indignação; acabam-se os nossos anos como um conto ligeiro.
A duração da nossa vida é de setenta anos, e se alguns, pela sua robustez, chegam a oitenta anos, o melhor deles é canseira e enfado, pois passa rapidamente, e nós voamos.
Quem conhece o poder da tua ira? E a tua cólera, segundo o temor que te é devido?
Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos coração sábio.
Volta-te para nós, SENHOR; até quando? E aplaca-te para com os teus servos.
Sacia-nos de madrugada com a tua benignidade, para que nos regozijemos e nos alegremos todos os nossos dias.
Alegra-nos pelos dias em que nos afligiste, e pelos anos em que vimos o mal.
Apareça a tua obra aos teus servos, e a tua glória, sobre seus filhos.(...)"

E que possamos temperar as nossas vidas com um grande número de coisas boas, que sejamos felizes e façamos aos outros bem, que sejamos fiéis sobretudo a nós mesmos e acreditemos que o Tempo nos ensinará que precisamos passar pelo mau para reconhecer o bom.
Devemos, no entanto, seguir a jornada neste Mundo, agindo
"de tal maneira que os anjos tenham alguma coisa para fazer." (Kafka)
O final da peça, foi belíssimo...

com alguns excertos de Jorge e Pedro Sobrado retirados do Manual de Leitura da peça

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