sexta-feira, 27 de novembro de 2009

O Avarento

Questões pessoais quase resolvidas e mais uma correria para chegar a horas à estreia da peça O Avarento. Nem todos puderam chegar a tempo...
O Avarento tem como personagem central o
Harpagão, uma personagem com vestes que o caricaturam por si só e que vive quase enclausurado em casa como guardião daquilo que mais preza na vida, o seu tesouro. Cleanto e Elisa, filhos de Harpagão vivem à mercê da piedade dos que conhecem a avareza daquele pai, até que um dia inesperadamente ele lhes comunica que se apaixonou e pretende casar com Mariana, a amada de seu filho Cleanto. A partir daí desenrolam-se as cenas caricatas, a intriga, a tragédia, a astúcia, a malvadez, a frieza...

"Harpagão tem imperfeições, coisas ridículas, hábitos, tiques, todos eles associados à sua grande paixão, mas que lhe dão espaço de jogo, que são, por assim dizer, pequenas fissuras no bloco do carácter. Ele é colérico, e os seus acessos de cóleras fazem com que tussa, porque sofre de catarro. Ele é medroso, inquieto, lamuriento. É hipócrita e pérfido. Gosta de inventar histórias. É ingénuo. Finalmente, não sei como, apaixona-se. (...) É graças às suas pretensões amorosas que melhor nos damos cota, e de uma forma divertida, da desumanização de Harpagão. É nas partes "amorosas", que o grotesco é levado ao extremo, chegando mesmo a raiar o odioso, e que a personagem, ultrajada por manipulações, apoquentada, empurrada, derrubada, se mecaniza e se aproxima do fantoche."
Jacques Copeau (retirado do Manual de Leitura)


Para quem acima de tudo na vida pôs o dinheiro, só podia esperar um final.
Por coincidência, as caixas multibanco estiveram em sintonia com a temática desta peça e não davam dinheiro a ninguém... os bancos a guardar os seus tesouros.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Imprevistos


Quando acordamos de manhã, não há uma tendência natural de pensar que num ápice o que parecia tão certo pode mudar, assim de repente numa chamada, em várias mensagens, num email...
Eis que na minha semana de tranquilidade, acordo para mais um dia, assim quase sem preocupações... até que uma chamada me inquieta e embora sem certezas, me demonstre que um 3 pode facilmente passar a 2, sem que a contagem decrescente tenha o sabor de vitória.
O efeito do jantar da noite anterior que tão bem me soube, enraizou também a vontade que se tornou certa de quebrar com aqueles laços que mantemos por força do tempo, por força de um amor que há muito não se alimenta de nada a não ser de contínuos descuidos e empurrões... assim de repente não me apeteceu dizer-lhe mais nada, nem mesmo Adeus!
À hora do almoço o número 2 tornou-se certo e a desilusão era dupla, ou tripla... ficou um vazio que temos de preencher com ajuda do tempo que resta!
No final da tarde, a chamada esperada toda a semana ficou sem resposta... aquilo que já era certo não precisava de palavras muito menos das palavras de alguém que não se deseja mais ouvir. Restava preparar-me para o dia seguinte, para ir firme e segura ao local que me abriu em tempos uma porta, mas que hoje eu só quero colocar tijolos para fechar de uma vez por todas o acesso a algo que me fez tão mal durante este ano.
O ginásio trouxe-me alguma paz, quebrada por chamadas e mensagens inesperadas... corro de novo para chegar à Baixa com tempo... não consigo um lugar para estacionar... deixo o carro num passeio de Sta. Catarina... corro para o teatro antes que a bilheteira feche... passa a Polícia... paro até perceber que o meu carro fica livre de multa... converso com a S., sempre tão querida comigo... corro de novo e sem mais tempo, decido deixar o carro naquele passeio... entro na Fnac a abarrotar e sento-me na primeira fila ao lado de Fer e Fil... 5 minutos e Sara Tavares entra com a banda no mini palco e finalmente relaxei... sorri e dancei...
Foi a primeira vez que vi Sara Tavares ao vivo e fiquei rendida, linda, simpática, excelente a cantar e a tocar, a envolver cada pessoa ali presente, a fazer com que todos sentissem a sua música e as "Good, good vibes".
Um ponto de luz para o dia seguinte... tudo vai correr bem!

domingo, 22 de novembro de 2009

As bol(h)as


Todos os dias são bons para um recomeço, não tem de ser segunda, terça ou quarta-feira, para mim, foi hoje, domingo.
Sem pensar se devia parar, descansar, sair, hoje arregacei as mangas e dediquei-me a um hobby
há muito relegado para segundo plano, os acessórios. Dá-me um prazer imenso poder criar coisas diferentes, olhar para as peças soltas e fazer delas, um colar, um alfinete, um porta-chaves, um anel...
Senti que ontem de alguma forma fui alimentada por uma força sobrenatural, pelo abraço aconchegante e terno, o beijo que segurou as lágrimas de uma saudade ainda incerta e plantou uma esperança revigorada, um perdão sem palavras, apenas sentido. Senti-me de novo em mim e pronta para olhar em frente.
Dei também hoje o passo da revitalização da mente e do corpo e fui ao ginásio... coisa que já não fazia há largas semanas. Senti-me feliz por ter conseguido, já que na última semana, desisti umas quantas vezes.
E foi quando voltava para casa, a sentir o fresco na cara, que vi caírem do céu, inúmeras bolas de sabão... e recordei aquela frase de ontem "tenho a sensação que tu passaste estes últimos 7 anos dentro de um bolha"... e sorridente comecei a tocar com a mão algumas bolas que estavam à minha frente e fi-las desaparecer, sentindo que era a minha bolha que se estava a desfazer.
E agora, aquela parte de mim que adora "borboletar", porque mantém o espírito de criança só queria ir para a janela soprar bolas de sabão alegremente... pois agora sei, que a bolha só nasce do lado de fora... SOU LIVRE!!

sábado, 21 de novembro de 2009

days with my father


Hoje, o Facebook fez-me chegar ao site de Phillip Toledano - days with my father e por largos minutos detive-me a ver as fotos e a ler os textos que contam os dias passados com o pai. Por várias razões, hoje, esta sensação de nostalgia e saudade teve um efeito duplo em mim. Tocou-me profundamente a vida contada essencialmente em imagens. Ainda hoje em conversa referi essa sensação de que tenho pessoas muito especiais na minha vida que se vão ressentindo com a passagem do tempo e que gostaria de poder guardá-las para sempre assim, porque me dão todo o carinho do mundo, porque gostam de mim assim como sou e porque os amo demais!

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Breve Sumário da História de Deus

Fonte

Sexta-feira, 21h30 (mais coisa, menos coisa, porque há coisas que já não são o que eram) no Teatro Nacional S. João, começa a desenrolar-se o Breve Sumário da História de Deus.
Surge um anjo que era tudo menos terrível, como havia sentenciado Rilke em 1923. A sua voz entrava no ouvido e chegava ao coração, não fossem as palavra difíceis de descortinar (pelo português "denso").
Procurei nas personagens que surgiram no desenrolar da história, o que mais poderia ter significado para mim nos dias de hoje e sem menosprezo a todos os que existiram e continuam a fazer parte da história, escolho o Tempo.


"E a ti, porém,

manda-te, Tempo, que temperes bem,
este relógio que te dou das vidas
e como as horas forem compridas
de que fez mercê a vida d'alguém,
serão despedidas."

É com ele que o Mundo e Morte se reúnem e ditam aquilo de que é feita a vida de todos nós. É ele que traz a Morte.


"Homem de molher nascido

muito breve tempo vive miserando
e como flor se vai acabando
e como a sombra será consumido."

Lamentou Job, tão conhecido pela sua paciência (Paciência de Job).


O Tempo é também referido em várias passagens da Bíblia, como no Salmo 90, Oração de Moisés:
"(...)Porque mil anos são aos teus olhos como o dia de ontem que passou, e como a vigília da noite.
Tu os levas como corrente de água; são como um sono; são como a erva que cresce de madrugada; de madrugada, cresce e floresce; à tarde, corta-se e seca.
Pois somos consumidos pela tua ira e pelo teu furor somos angustiados.
Diante de ti puseste as nossas iniquidades; os nossos pecados ocultos, à luz do teu rosto.
Pois todos os nossos dias vão passando na tua indignação; acabam-se os nossos anos como um conto ligeiro.
A duração da nossa vida é de setenta anos, e se alguns, pela sua robustez, chegam a oitenta anos, o melhor deles é canseira e enfado, pois passa rapidamente, e nós voamos.
Quem conhece o poder da tua ira? E a tua cólera, segundo o temor que te é devido?
Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos coração sábio.
Volta-te para nós, SENHOR; até quando? E aplaca-te para com os teus servos.
Sacia-nos de madrugada com a tua benignidade, para que nos regozijemos e nos alegremos todos os nossos dias.
Alegra-nos pelos dias em que nos afligiste, e pelos anos em que vimos o mal.
Apareça a tua obra aos teus servos, e a tua glória, sobre seus filhos.(...)"

E que possamos temperar as nossas vidas com um grande número de coisas boas, que sejamos felizes e façamos aos outros bem, que sejamos fiéis sobretudo a nós mesmos e acreditemos que o Tempo nos ensinará que precisamos passar pelo mau para reconhecer o bom.
Devemos, no entanto, seguir a jornada neste Mundo, agindo
"de tal maneira que os anjos tenham alguma coisa para fazer." (Kafka)
O final da peça, foi belíssimo...

com alguns excertos de Jorge e Pedro Sobrado retirados do Manual de Leitura da peça

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

We're like water and a flame...



A questão não está em seguirmos o caminho mais fácil, mas em seguir aquele que de alguma forma nos fará sofrer menos.
É indiscutível que me sinto triste, porque deixar ir um pedaço de nós, deixa sempre um vazio por preencher, uma saudade, uma vontade de ter feito mais e a desilusão de nunca ter sequer tido essa oportunidade!
Estava num cárcere e o único consolo era a tua voz, ora alegre e aconchegante, ora recriminatória e agressiva!
Se olhar para trás e ler as coisas que escrevi ao longo dos anos, vejo que sempre foste isso... eu apenas me tornei menos tolerante ao sofrimento e às desilusões que me causaste!
Não quero nada além da lembrança feliz... apenas não quero mais ter-te na minha vida!
I look away... and I will be good...either way!

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

São fases...

Fonte

Senti que precisava de um tempo, senti que as palavras não saíam da mesma forma, a minha alegria não era a mesma e até a tristeza se tinha transformado em algo que desconhecia. Senti que queria escrever, mas os meus pensamentos começavam a atropelar-se, até que parava e decidia sempre, por dias e dias, não escrever uma única palavra.
Limitei-me a ler o que os outros escreviam, a sublinhar o que me interessava, a viver como podia, a sorrir por vezes, a chorar muitas vezes e a deixar que o tempo ajudasse a suavizar as angústias e me ensinasse que as fases da vida, as boas e as más, têm uma determinada duração e que cabe a cada um fazer o melhor que puder para mudar para o estado que nos faz sentir melhor.
Para quem me conhece,
é indiscutível, que o meu melhor estado, é a alegria e o sorriso estampado no rosto, não só porque é isso que me faz feliz, mas também porque assim transmito aos que me rodeiam algo de bom. A minha forma irónico-sarcástica de reagir às adversidades vai-se mantendo, embora precise ainda recuperar um pouco a velha forma. O bem-estar também chega, com os seus altos e baixos... até que me retenho num pensamento "um dos meus sonhos está perto de ser realizado!", parece que aí tudo muda e só me sei sentir bem e feliz...
Ontem o Mister disse-me que eu era um "livro fechado", "uma caixinha cheia de surpresas"... sim, talvez seja, mas sou acima de tudo sincera naquilo que digo, não finjo ser o que não sou, mas às vezes sou aquilo que não devia ser!
Todos nós, passamos por fases em que não nos reconhecemos... eu passei por essa fase, mas volto a encontrar-me comigo e sei que apenas quero continuar a ser aquilo que sempre fui!
Aprendi com cada acto meu, com cada pedaço de dor, com cada lágrima, com cada abraço que recebi, mas sobretudo aprendi a aceitar a "derrota", e a aceitar que às vezes não é mesmo a altura certa para vivermos algo ou às vezes aquela não é a pessoa certa.
No entanto, o que de mais importante recebi depois de tudo, foi a compreensão e a noção da grandeza do sentimento que partilhava com alguém, nunca pensei que pudesse ser tão sincera, transparente com alguém, ao mais profundo de mim, nunca esperei partilhar tudo aquilo e sentir o aconchego que senti. Fica alguma tristeza por tudo aquilo que nunca mais poderá ser, mas sigo muito feliz, por tudo aquilo que um dia foi e que não poderá ser igualado.

"Pode sempre explicar-se o drama de uma vida através da metáfora do peso. Costuma dizer-se que nos caiu um fardo em cima. Carregamos com esse fardo, suportamo-lo ou não o suportamos. Lutamos com ele, perdemos ou ganhamos."

Assim como aconteceu com Sabina no livro do Kundera, o que se abateu sobre mim, não foi um fardo, mas a insustentável leveza do ser!