sexta-feira, 30 de abril de 2010

Agora a sério


Henry, um dramaturgo dividido entre duas actrizes, Charlotte e Annie, é o protagonista desta tragicomédia em que Tom Stoppard usa o teatro dentro do teatro para lançar no palco um debate sobre as ideias-feitas de fidelidade, realidade e talento. 
Assim Stoppard "respondeu" aos críticos que o acusavam de não escrever sobre sentimentos, sobretudo sobre amor.
Sob a metáfora de um castelo de cartas, amor, sofrimento, ciúme e alegria transfiguram o palco, figurando a vidas e os jogos de enganos e desenganos em que as pessoas se conhecem e dão a conhecer. Quando poderemos dizer que "agora é a sério"?

Nas várias opções que a cidade de Lisboa nos oferece, escolhi esta peça que tinha estreado dia 29 Abril, pelo elenco e pela história em si. Valeu a escolha. 
Tive uma tarde perfeita a anteceder o espectáculo em que eu própria me ouvi dizer a alguém, que talvez as escapadelas servissem para olharmos para os nossos relacionamentos com outros olhos e nos ajudassem a dar mais valor às pessoas que temos ao nosso lado. Se acredito nisso?! Não a 100%, mas aquele talvez fosse o caso! Conseguir compreender as razões da infidelidade não quer dizer que queira isso para mim, sendo traída ou traindo. 
Prefiro ver as situações como momentos... apenas e só, momentos em que ninguém quer roubar a felicidade alheia, apenas acrescentar algo. E sim, sou feita de outra matéria que não aquela que aceita bem que a pessoa ao meu lado se ande a divertir por aí com outras debaixo do meu nariz...
Acredito na monogamia e pratico-a quando estou num relacionamento, mas que esta peça nos demonstra bem a facilidade com que hoje em dia construímos relações à volta da própria relação, não há que esconder. Prefiro ser avestruz e enfiar a cabeça na terra, para não ver tão nitidamente essa realidade e o que mais me importa é que a pessoa ao meu lado me trate muito, muito bem!
Adorei ter a companhia do Mister, como sempre aliás, é um verdadeiro amigo, que merece ser feliz, sempre!
E eu, hoje, dia 30, compreendi que há coisas que poderiam durar a vida toda, mas que simplesmente o meu coração não merece ter tão pouco... sou amiga, sou mulher, sou Humana!

terça-feira, 27 de abril de 2010




"o mundo das paixões é o mundo do desequilíbrio, é contra ele que devemos esticar o arame das nossas cercas, e com as farpas de tantas fiadas tecer um crivo estreito, e sobre este crivo emaranhar uma sebe viva, cerrada e pujante, que divida e proteja a luz calma e clara da nossa casa, que cubra e esconda dos nossos olhos as trevas que ardem do outro lado; e nenhum entre nós há de transgredir esta divisa, nenhum entre nós há de estender sobre ela sequer a vista, nenhum entre nós há de cair jamais na fervura desta caldeira insana, onde uma química frívola tenta dissolver e recriar tempo; não se profana impunemente ao tempo a substância que só ele pode empregar nas transformações, não lança contra ele o desafio quem não receba de volta o golpe implacável do seu castigo; ai daquele que brinca com o fogo: terá as mãos cheias de cinza; ai daquele que se deixa arrastar pelo calor de tanta chama: terá a insônia como estigma; ai daquele que deita as costas nas achas desta lenha escusa: há de purgar todos os dias; ai daquele que cair e nessa queda se largar: há de arder em carne viva; ai daquele que queima a garganta com tanto grito: será escutado por seus gemidos; ai daquele que se antecipa no processo das mudanças: terá as mãos cheias de sangue; ai daquele, mais lascivo, que tudo quer ver e sentir de um modo intenso: terá as mãos cheias de gesso, ou pó de osso, de um banco frio, ou quem sabe sepulcral, mas sempre a negação de tanta intensidade e tantas cores: acaba por nada ver, de tanto que quer ver; acaba por nada sentir, de tanto que quer sentir; acaba só por expiar, de tanto que quer viver; cuidem-se os apaixonados..."  


Excerto do texto original de "lavoura arcaica" de Raduan Nassar

Dedicado ao meu amigo Mister, porque entenderá cada palavra escrita (e porque as reescrevi por ti) e ao meu doce B. que hoje me tocou esta música e me apaixonou...

sábado, 24 de abril de 2010

7:AM



"Quando os artistas começam,
é clara a luz que os guia.
Não soluçam, não tropeçam.
Nunca escurece o seu dia.
No mundo dos alquimistas, 
não cabe a desilusão.
Tudo são louros, conquistas, 
no nascer da criação.
Mas mal eles sabiam, 
mal eles sabiam...
que os corvos também piam sem ordens para piar.
Gatos pretos também miam sem que os mandem miar.
E as espinhas arrepiam com meras correntes de ar!"



Ir ao teatro pode ser algo habitual, mas ir ao teatro ver uma peça em que no cartaz surge o nosso nome, nem por isso, muito menos que refira que somos co-produtores da mesma. Na verdade esta ideia bastante original a meu ver, teve os seus frutos e começou com Norma em Dezembro, onde assinei um contracto! 
Uma brincadeira que se revela interessante e que serviu para juntar amigos, co-produtores ou não numa peça que tinha tudo para ser triste e dramática, mas que a mim me fez rir bastante, quer pelas caras do Frederico, pela seriedade e nojo do seu irmão, pela mãezinha que se aguentou deitada, quietinha e bem "aquecida" durante toda a peça, quer pela ratazana que canta e diz:
"Então velhinha, nós tinhamos um acordo, tu comias a maçazinha e eu ficava com o caroço, tu comias as bolachinhas e eu ficava com as migalhas... onde está a maça velhinha?! Busca!!"

Uma noite entre amigos, inclusive do Mister vindo da capital que passou pelo petiscar a seguir na "casa de Sto. António" onde estava tudo a terminar e uma passagem na "rua das Galerias" para "investigar" o ambiente! Ri muito, muito mesmo!

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Mergulhei na paixão...

Comporta


És como a brisa numa tarde quente de Verão, atenuas o insuportável e dás prazer, apenas por existires...
Foi um instante, sorriste e mergulhei na tua simpatia sem medo de me afogar, porque és doce como a água do rio.
Podia ter apenas vindo embora, podias ter sido apenas a doce lembrança de uma cidade distante, podia nunca ter descoberto como é lindo ver o rio desaguar no mar e nunca ter descoberto o teu sabor a mar... 
Hoje não estaria perdida, sem ti, mas com vontade de me perder contigo, aqui... a simples ideia de te tocar, de me falares ao ouvido com esse sotaque dengoso, de me fazeres promessas que nem sabes bem se queres cumprir e que nem eu sei se vou cumprir... 
Hoje não estaria aqui a imaginar uma realidade ilusória, um quadro apenas com esboços, ao qual vamos os dois dando cor... e quero fazer mais, a cada dia, até ao dia em que nos vamos sentar os dois em frente a ele e perceber se foi a obra das nossas vidas!
Por agora, basta-me saber isto:
Fazes-me bem!

segunda-feira, 19 de abril de 2010

domingo, 18 de abril de 2010

Diálogos actuais...



Serralves em Festa 2006

- Sabes o que é que eu mais gosto em ti, para além de todas aquelas coisas nices que fazes?
- Não!
- O teu sotaque italiano.
- Mas eu não tenho sotaque italiano!
- Pois não...
* diálogo retirado da Curta "Canção de Amor e Saúde", realizada por João Nicolau.


... que em muito demonstram a realidade de muitas relações. Procuramos o perfeito, o ideal... ele existe, mas apenas na nossa cabeça. O restante é adaptação às circunstâncias e às pessoas em si. A paixão existe e o amor também, mas nem eles conseguem ser sempre perfeitos, e aliás, nem teria piada se assim fosse. 


Eu não seria tão feliz, se não tivesse passado por algumas coisas más... não teria aprendido a dar valor a tudo de bom que tenho hoje em dia!

sábado, 10 de abril de 2010

Alguém olhará por mim

"Numa ficção dramática atravessada pela tragédia e pelo humor, pela solidão e pelo amor, Frank McGuinness confronta os “inimigos” exteriores e interiores das suas personagens, condenando‑as – numa espécie de actualização dos mais paradigmáticos Vladimir e Estragon de À Espera de Godot, de Samuel Beckett – a uma sucessão de jogos, de exercícios destinados a passar o tempo e a combater o desespero e as cruéis provações impostas pela sua condição de prisioneiros. São, contudo, estes momentos – em que as personagens escrevem cartas imaginárias, realizam filmes, recordam corridas de cavalos, conduzem um carro pelos ares, entoam canções ou jogam uma partida de ténis – que erguem o dispositivo metateatral à condição de mecanismo transformador da identidade: desafiando em paralelo os estereótipos nacionais e os estereótipos de género, o dramaturgo explora as possibilidades performativas da imaginação, o impulso natural para a ficcionalização, para desse modo justificar as transformações por que passam as personagens."
...
"“Someone to Watch Over Me”, de 1926, imortalizada em vozes tão distintas como as de Ella Fitzgerald ou Frank Sinatra – é a de que haverá sempre alguém a olhar por nós: trata‑se de uma ideia esperançosa e estimulante,
infelizmente contradita por alguns acontecimentos da própria peça, como a morte de Adam, mas também reforçada pela dinâmica gerada com a sua ausência."

Paulo Eduardo Carvalho excerto do Manual de Leitura da peça



O título desta peça é deveras sugestivo, afinal todos nós, mesmo os mais independentes como eu (me considero), desejamos ter alguém que olhe por nós.
A ideia base é que no final, ficamos com a noção, que temos nós mesmos de estar lá por nós, pois em muitas ocasiões estamos tão sós como os 3 personagens da peça. Eles só se têm a si, às suas histórias, às suas partilhas, para iludir o tempo que passa lá fora, fora da "prisão" onde se encontram!
É muito interessante perceber como a falta de distração nos leva a partilhar coisas tão íntimas, nos obriga a criar histórias para embelezar a realidade e afugentar o medo, torna 3 perfeitos estranhos e 2 aparentes rivais (inglês e o irlandês pela conjuntura política e religiosa) em quase cúmplices, porque no final somos todos seres humanos e naquele caso em semelhante situação.
Foi a peça mais intimista que vi, num espaço místico e com uma iluminação que nos faz sentir menos espectadores e quase tão prisioneiros como o irlandês, o inglês e o americano (a lembrar as anedotas "era uma vez um inglês, um irlandês e um americano numa cela..."), excepto na parte final em que nos levantamos, aplaudimos e saímos tão livres como antes... bem, livres fisicamente, mas não de pensamento.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

The Book of Eli


Este filme é para mim uma analogia de que na cegueira se pode ver bem mais e mais longe... 
Eli, interpretado por Denzel Washington (que eu gosto bastante), segue a sua missão após 30 anos rumo a Oeste, várias lutas, várias mortes necessárias, mantendo sempre consigo o seu bem mais precioso, the so called Book of Eli.
A destruição, a sujidade, quase que se conseguem cheirar aquelas cenas, quase que se sentem as setas entrarem na carne... 
Muitos culparam o tal livro como causa da desgraça, há um que o conhece (além de Eli) e que o considera a salvação... poucos são aqueles que ao pegar-lhe, conseguem lê-lo realmente e sobretudo estejam aptos a passar a mensagem nele presente.
Eli conseguiu reproduzi-lo com a sua memória e ele voltou a ser impresso para que todos os olhos o pudessem ler, ou pelo menos tentar...  The Holy Bible, era o livro favorito de alguém que conheci e admiro até hoje.
Um livro é a mais poderosa das armas, pode dar vida, faz pensar ou se é mal usado, pode matar muitas pessoas, a Humanidade... era isso que aconteceria se todo o mundo deixasse de acreditar que existe algo superior a nós, algo sagrado, que aqui estamos com uma missão e que o nosso Criador vê todos os nossos actos e nos iluminará com a sua infinita bondade.
Seja qual for a religião, o que precisamos é acreditar em algo, seja no livro, no que lá está escrito, em Deus, em Alá... em algo transcendente que nos supere e nos faça tentar sempre ir mais além. Mas o mais certo é que no final percebamos que o que mais precisavamos na realidade era acreditar em nós mesmos, e como Eli, lutar até a nossa missão estar cumprida, seja ela qual for.

sábado, 3 de abril de 2010

O que é feito da saudade?

Park Güell - Barcelona - Setembro 2009
Tenho tentado perceber o que é feito da saudade... a saudade de ti?
Aquela a que estava tão habituada que parecia que já não conseguia viver sem ela?
A verdade é que já há alguns dias ou semanas não a encontro... lembro-me obviamente de ti, de nós e dos momentos, porque é tudo demasiado fresco, comparado com o tempo que durou e a memória é algo que não nos deixa escapar à ilusão do esquecimento.
Mas saudades, saudades de verdade, não sinto...
Penso apenas que a vida está a seguir pelo caminho que escolhi para mim e que embora ele se torne cada vez mais distante de ti, já nem sequer me incomoda e é algo tão natural como acordar todas as manhãs e comprovar que afinal eu existo sem ti, sou feliz sem ti... e não, não é verdade que não tenhas sido importante, foste, muito importante, apenas não és indispensável!

In the name of love




"Do for love  
Like you can do  
Nothing else  
No more    

Sing for love  
Like your favorite song  
Playing on the radio 

Stand for love  
Like you haven't stood for anything  
In life before   
In the name of love  
Let's sing this song  
Do it all in the name of love"


Estou a senti-lo... aquela vontade de amar entrou dentro de mim, pelo simples prazer de amar, sorrir para a vida e para todos à minha volta, ter uma luz brilhante dentro e fora de mim, fazer e dizer coisas bonitas...
I'm feeling it, I really love to LOVE!! :-)