quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Electra

"As cenas são descoladas e aparentemente sem relação ou objectivo comum, no entanto, vão desvendando uma espécie de personagem misterioso.
É como se houvesse uma inquietação latente naquela mulher, onde cada momento e cada lugar por onde passa tanto são acrescentados como anulados pelos que se seguem.
Cada cena, cada passagem tem uma força estranha, uma vivência e uma certeza que se instala desde o primeiro gesto.
As acções banais entre as cenas carregam a carga do que acabou de fazer, tornando essas acções, também elas, em cenas.
É uma mulher que não pensa nem sente. Ela tortura-se, obriga-se, anula-se...
Castiga-se a passar o tempo congeminando uma nova forma de agir, de estar, de se lamentar, de se preparar, de lutar,... de jamais se esquecer.
Não há resignação, não há desistência, apenas por vezes uma espécie de falso e tranquilo abandono.
Ela mostra sem pudor a sua força e a sua fraqueza, a sua nobreza e a sua humilhação.
Ela é uma mulher assustadoramente presente na sua ausência.
Os seus olhares para o exterior de si são os únicos indicativos da sua espera onde o tempo não existe.
Ela nunca se expõe, apenas se dispõe."

Estas são as palavras de Olga Roriz e na verdade se as lermos antes de assistirmos a "Electra", talvez alguns momentos se expliquem, bem como se lermos um pouco da história da Electra da mitologia grega, mas a verdade é que nem tudo se poderá entender da forma que a interprete quis demonstrar.
A minha expectativa para este Solo, depois de ter visto no Dancem!09 Paraíso e Inferno da autoria da mesma Olga Roriz, era muito elevada. Reservei bilhetes para a estreia com a devida antecedência e estava expectante, até que depois de ler o que escreveu o meu amigo Mister fiquei desiludida mesmo sem ver. Porquê? Porque tenho a certeza que ele não teceria um comentário mau, se aquilo que viu lhe despertasse algo bom.
Por razões óbvias e muito minhas, não desistiria de ver por essa razão, pois tenho consciência que as opiniões podem divergir. No entanto, isso fez com que não levasse as pessoas que esperava levar, pois saberia que também elas não iriam entender o que eu teria visto de tão bom para recomendar Olga Roriz.
Electra não me encantou, apesar de em algumas partes admirar a rectidão de movimentos que fazia, devidamente estudados para demonstrar a angústia, a espera, a revolta... a técnica não está em questão, mas para mim, em vários momentos a ausência de movimentos poderia ter sido feita de outra forma... chega a cansar e não nos brinda com algo, que a meu ver, dignifique o seu nome.
A minha companhia também não ficou maravilhada, mas naquela estreia no Teatro Nacional São João, ninguém saiu da sala e aplaudiram bastante a artista, inclusive com vários Bravos atrás de mim!
Não deixa de ter mérito por não me ter agradado em Electra e continuarei a ver espectáculos assinados pela mesma, porque na verdade o conceito de "arte" é relativo e sinceramente não me parece a mim, que a maioria dos espectadores consiga compreender o que esta "Electra" nos quis transmitir...
Continuemos para o próximo. Esta sexta com " A Mãe" de Brecht!

1 comentário:

PSousa disse...

O que este espectáculo já deu ali pelo meu blog...

Bj doce, Amiga