LLH - Lisboa, Maio 2009
Olho para o lado e de repente detenho-me nesses pequenos olhos.Vejo-te tão pequeno e vestido de branco como se Pureza fosse o teu nome. Tento perceber nesse olhar algum nervosismo ou até mesmo pânico de veres vultos tão maiores que tu, dessas sombras que se materializam tão perto de forma a que não as consigas ver por completo.. imagino que esses pequenos olhos não alcancem tudo. Penso como será sentires essa mão que te envolve e não te deixa mover mais que uns milímetros.... no sufoco que deve ser ter uma mão que nos prende todos os movimentos, uma mão capaz de sentir o bater descompaçado de um pequeno coração e a respiração rápida, mas de certa forma resignada ... uma mão que podia sentir... mas essa mão que te envolve, apenas sabe que te tem e daí não sais! De resto, o mais importante é chegar a casa e arranjar uma gaiola decente para viveres!
"Bom, bom era que fosses macho...", mas essa mão não sabe senti-lo...
Quando finalmente ela te libertar, demorarás uns minutos a perceber que poderás abrir as asas, mas que elas servirão de pouco, pois estás novamente cercado, por uma espécie de mão... que te permite movimentos, te deixa saltar, comer, beber, cantar quiçá, mas te mantém num local onde tudo será condicionado por essa mão que agora te envolve. Serás alimentado por ela, viverás enquanto ela quiser...
Por momentos, voo eu para longe dali, deixo de ver esses pequenos olhos e vejo-me a mim mesma, tão pequena que caibo numa mão, uma mão que também não sente o bater do meu coração, que não me deixa abrir as asas e voar para longe dali, que não me afasta dos vultos que se aproximam... por momentos também eu começo a sentir a minha respiração resignada... por momentos começo a sentir falta do alimento que essa mão não fornece...
Parque Real... e lá vais tu pequeno canário... eu sigo viagem, já de volta ao meu mundo, onde não existe mais nenhuma mão capaz de ser tão insensível ao bater do meu coração!
2 comentários:
Simplesmente, brilhante!
Vivo entre o desejo de me despojar
de tudo ambicionando o nada
Esperando bem longe, quase mudo,
o final de mais uma temporada
No meu preto vejo o mar
Do meu branco o seu luar
Nos dois a ambição de ir
sem querer ficar
A liberdade de ir só para ter a alegria de voltar
Vivo entre o céu, meu desejo,
e o chão feito de um qualquer telhado
E das núvens faço as cômodas
gavetas recheadas de passado
No meu branco sou liberto
Do meu preto ser concreto
Os dois uno dividindo forças iguais
Sobre o esvoaçar rasante a esteios sentimentais
Sobre o sair daqui deste sítio
Nem que para isso me atire de cabeça para o precipício
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