A história dos dias da senhora Rasch, quando chega a casa, é assim. Um após o outro, todos iguais, frios, abandonados. A vidinha, como sói dizer-se, na mais crua das rotinas. E no mais pesado dos silêncios. Um desafio particular à expressividade de qualquer actriz: a senhora Rasch não dirá uma única palavra. O alemão Franz Xaver Kroetz retratou, em 1971, a solidão de uma mulher entregue à depressão e à obsessão pelas coisas arrumadas.
Estive 1h30 sentada no Teca, depois de um dia em que me senti enjoada e com dor de cabeça, depois de ter andado algum tempo pelo Porto vestida de noiva e ter-me "posto" para umas dezenas de fotos e posso garantir que isso não me fez ter menos interesse por aquilo que se passou no palco. Apesar do silêncio, apenas quebrado pela TV, pelo programa n.º 56 de Paixões Cruzadas (António Macedo e António Cartaxo) da Antena 1, pelas actividades obsessivo-compulsivas da Senhora Rasch, pela sua ira, pelo seu andar, pela sua presença bem marcada apesar do silêncio. Esta história faz-nos reflectir sobre a nossa própria vida, sobre as nossas actividades rotineiras, sobre aquilo que desejamos e sobretudo sobre a solidão...
"Concerto à la Carte é a vidinha duma senhora, igual a tantas que moram no apartamento o lado, que se cruzam connosco no supermercado, a quem olhamos sem ver e que morrem sem sabermos e sem elas mesmas darem por isso." Rui Madeira
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