sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Breaking Up Is Hard to Do

Barcelona - foto de T.G.

We don't have anything in common," I said. 
"We're two completely different people.
It doesn't make sense to stay together."
But then she started to rub my penis through my pants; 
I suddenly remembered that we both did like Indian food.
Hal Sirowitz

A separação é difícil
Não temos nada em comum – disse eu.

Somos duas pessoas completamente diferentes,

Não faz sentido nenhum que fiquemos juntos.

Mas ela começou a esfregar-me o pénis através das calças

E lembrei-me de repente que ambos gostamos de comida indiana…
Tradução de José Luís Peixoto

Porque o achei... assim... tão actual e adequado!! (ouvi nas Quintas de Leitura - n.º 100)

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Leica Virgem - Quintas de Leitura n.º 100


Esta sessão das Quinta de Leitura tinha tudo para ser especial e a meu ver, não gorou as expectativas.
Confesso que antes de sair de casa, o cansaço quase me derrotava e o tempo não ajudava, mas a força da minha companhia fez-me vestir o casaco e sair... ainda bem!
É sempre bom sairmos para ver coisas novas, ouvir textos variados...
Ouvi alguns textos que já conhecia, fixei outros que nunca tinha ouvido, pela entoação dos novos leitores das "Quintas", que merecem os Parabéns! Grandes momentos...
Tive o prazer de assistir ao excerto da peça "Soliloquy about Wonderland", de Vortice Dance Company e fiquei com vontade de a ver toda, pois pareceu-me maravilhosa... aqueles efeitos visuais e a dança que parecia tão fácil, deixaram-me um sorriso nos lábios.
Raúl Peixoto da Costa, o jovem que fez há uma semana 17 anos, encheu ainda mais aquela sala e fez-me viajar ao som de Chopin ("Nocturno OP. 9 N.º3" e "Scherzo N.º 4")... viajei uns anos embalada por aquele som divinal...
Por fim, Pedro Lamares, alguém que gosto sempre de ouvir, apresentou o "Fraseador " e deu a conhecer mais alguns textos interessantes de autores portugueses e que me eram desconhecidos.
O concerto de B Fachada, não pude assistir, pois já era tarde quando terminou a 2.ª Parte. De qualquer forma, vim de lá bastante contente por ter ido ... com aquela sensação de sair da sala culturalmente mais rica!!

 

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Frágil

 
Frankfurt 2008

Esqueci-me de te dizer que o meu coração era FRÁGIL!
Achei que ias perceber... que o ias tratar com carinho quando soubeste que grande parte dele te pertencia... mas hoje percebo que tu nunca soubeste realmente o quanto ele te pertencia e por isso, talvez, não o tenhas "transportado" com o cuidado necessário ao longo deste anos!
Estou a preencher o puzzle para ter a "tua parte" de volta... conforta-me a calma que sinto e apesar disso não deixa de me entristecer que tenhamos dito "Adeus" sem palavras, sem um abraço, sem olharmos nos olhos! Sei que um dia vou perceber que foi a única forma possível, hoje ainda não estou bem certa, mas já não me perturba!
Quando um não quer, dois não discutem e como tal, resigno-me à tua vontade, que já foi minha... um dia que não hoje!
Prefiro ficar com as minhas lembranças boas, com a minha esperança na mudança, com a minha força de acreditar que devemos lutar sempre pelo que achamos que vale a pena, até percebermos que não dá mais... tu valeste a pena para mim, cada dia, cada instante que vivi, que partilhei apenas e só, porque tudo o que fiz, foi com amor.
Fui obrigada a defender-me diversas vezes lembrando-te cada pormenor, cada surpresa, cada atenção especial... não para cobrar, mas para que pudesses perceber o quanto gostava de ti. Cortava-me o coração quando dizias que tudo foi mau, que eu não gostava assim tanto de ti e obrigavas-me a citar o que nunca devia ter sido dito ou lembrado, para te tentar mostrar o que afinal nunca poderás ver!
Podia sentir que foi tempo perdido, que estes 7 anos podiam ter sido bem diferentes, que eu deveria ter ficado longe, cada vez que me propus a tal e nunca ter cedido quando me pediste para voltar, mas não estaria a ser justa, nem com a história, nem com o meu coração! 
É triste chegar a uma altura em que pedir desculpa já não resolve nada e não me conforta saber que desta vez não fui eu que fiz algo para isso!
Apesar de toda a esperança depositada numa relação que nunca cheguei verdadeiramente a ter, consegui aguentar muitas coisas que me feriram, como por exemplo, quando desabafavas comigo acerca das tuas namoradas e uma vez referiste que nunca ninguém te tinha amado tanto como a tua ex-namorada... fiquei gelada, mas não disse nada e depois, uns instantes depois, olhaste para mim e disseste:
-Oh, desculpa, além de ti, claro!
E eu, fui buscar aquele sorriso e disse-te:
-Não te preocupes, sei que estamos a falar das pessoas que tu também amaste...
No fundo, quem era eu?! Apenas uma não-relação, alguém que sempre esteve lá, nos bons e nos maus momentos, que tentou a todo o custo perceber porque é que eu, que fazia contigo tudo o que uma namorada faz, nunca o cheguei a ser! Alguém que chorou contigo quando me falaste das tuas desilusões, dos teus amores, alguém que te disse para ires atrás se sentias que era algo mal resolvido, porque senão nunca serias feliz, alguém que te disse que ficava do teu lado, apesar disso.
Eu fui acima de tudo tua amiga, mas não poderia abandonar a minha tristeza quando depois de me tratares com todo o carinho e eu achar que era daquela vez que ia resultar e uma semana depois, tu me abraçavas e beijavas nas escadas rolantes a caminho do cinema e falavas da tua namorada! Namorada??! Mas há uma semana já tinhas namorada??! Como era possível!!!
Nunca percebi, nunca perceberei isso e muitas outras coisas que já não importam!
Fiquei, porque quis e porque me pediste... fiquei porque o meu coração ainda sentia esperança em ti, em nós!
Agora já não sente esperança nesse relacionamento, mas sentia naquilo que eu pensei que nunca iria morrer, a Amizade e a esperança que a luta que sempre fiz para superar esta vontade de "um amor para a vida" e tornar-me apenas e só, amiga, tivesse valido a pena! Na verdade se achasse que não fazia sentido ter-te na minha vida, se não me fizesses falta, há muito teria baixado os braços...
Se tivesse desistido, tenho a certeza que a minha vida teria sido muito diferente, não sei se melhor ou pior, apenas diferente! Não me vou arrepender de nada, porque não faz parte de mim viver com ressentimentos.
Hoje não me despeço de ti, de nós ou da nossa história... deixo apenas um Até já ou Até Sempre!!
Nota: e hoje não é a Lou que assina, mas a Di!
 
Imagem integral do 25h Hotel em Frankfurt

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Facas nas Galinhas


Esta história nasceu da ideia que David Harrower tinha no início de que, para se ser autor de teatro, era preciso estar-se muito zangado.
Depois de ter escrito a sua primeira peça com base na "zanga" que tinha chegou à conclusão que a mesma era má.
Como antídoto para esse desastre,  começou a escrever "Facas na Galinhas".

"A história inicial parte do que passei a saber sobre os moleiros. Os moleiros na Escócia eram muitas vezes postos de parte pela comunidade porque, como se diz no texto, existia uma lei que concedia ao moleiro uma percentagem da farinha que lhe era mandado moer. Os camponeses suavam no trabalho para conseguir o milho e o moleiro assobiava enquanto a mó trabalhava. E ainda por cima tinha direito a uma percentagem do suor do camponês. Inventei então a história de uma rapariga que, de cada vez
que vai ao moinho, se apaixona mais pelo moleiro.

(...)
Quando parti para a peça, comecei a imaginar como seria viver num mundo onde só se tivesse certas palavras para certas coisas. Céu era céu e não era mais nada. Se o céu está escuro, então diz‑se
chuva. Não há advérbios, palavras que descrevam. Inventei uma língua, as personagens falam como se tivessem acabado de aprender a falar. Foi aqui que apareceu o outro elemento de Facas nas Galinhas. Passou a ser uma história tanto sobre o crime e o amor como uma história sobre a linguagem.
A escrita desta peça permitiu‑me fazer duas grandes descobertas que marcam hoje a minha escrita. A primeira está relacionada com a linguagem. Escolhi não utilizar a linguagem realista, porque as personagens têm de ser mais do que são, têm de ir além de si próprias, têm de ser metafóricas. Não sei
se ainda acredito nisto, mas na altura convenci‑me de que a história não pode ser apenas uma história, mas que tem de ter qualquer coisa para além dela.
A segunda descoberta foi a estrutura. Aprendi a estruturar e isso é uma das coisas mais importantes na escrita."

* Excerto de “Há um segredo no coração de cada cena” David Harrower. Artistas Unidos:Revista. N.º 4 (Abr. 2001). p. 2‑4.

Altar Particular

 
Igreja de St. Stephens em Budapeste - 2007

Parei... por uns dias!
Voltei... por muito tempo (espero)!
Quebro e reconstruo os pedaços... demoro dias, meses...
As lembranças, essas ficam por muito tempo, algumas tenho a sensação que ficarão para sempre como se estivessem entranhadas na pele... já fazem parte de mim!
Não há forma de apagar da mente o que nos faz mal, resta-me a sensação de dever cumprido...
Restam-me a família os amigos, sempre, as músicas que marcam os momentos e me ajudam a acreditar que basta ter vontade de abrir a janela todos os dias, sorrir e acreditar que não é a falta de uma pessoa, a desilusão com algumas outras que vai tornar o mundo menos aprazível!
Ainda há tantas coisas que não vi, ainda há tantas coisas que não vivi.
Ouvi isto ontem: "Você precisa esquecer toda a saudade que você sente e construir novas lembranças"
E hoje acordei com uma enorme vontade de ser feliz.


Fica a música que me acompanhou nos últimos dias:


Meu bem que hoje me pede pra apagar a luz
E pôs meu frágil coração na cruz
No teu penoso altar particular
Sei lá, a tua ausência me causou o caos
No breu de hoje eu sinto que
O tempo da cura tornou a tristeza normal
E então, tu tome tento com meu coração
Não deixe ele vir na solidão
Encabulado por voltar a sós
Depois, que o que é confuso te deixar sorrir
Tu me devolva o que tirou daqui
Que o meu peito se abre e desata os nós
Se enfim, você um dia resolver mudar
Tirar meu pobre coração do altar
Me devolver, como se deve ser
Ou então, dizer que dele resolveu cuidar
Tirar da cruz e o canonizar
Digo faço melhor do que lhe parecer
Teu cais deve ficar em algum lugar assim
Tão longe quanto eu possa ver de mim
Onde ancoraste teu veleiro em flor
Sem mais, a vida vai passando no vazio
Estou com tudo a flutuar no rio esperando a resposta ao que chamo de amor

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

A Mãe


Em A Mãe, a relação está invertida: é o filho que, espiritualmente, dá à luz a Mãe. Esta reversão da natureza é um grande tema brechtiano: reversão e não distribuição; a obra de Brecht não é uma lição de relatividade, de estilo voltairiano: Pavel desperta Pelagea Vlassova para a consciência social (aliás, através de uma práxis e não através de uma fala: Pavel é essencialmente silencioso), mas isso é um parto que só corresponde ao primeiro alargando ‑o.
(...)
Na ordem burguesa, a transmissão faz ‑se sempre do ascendente para o descendente: é a própria definição de herança, palavra cujo destino ultrapassa muito os limites do código civil (herdam ‑se ideias, valores, etc.). Na ordem brechtiana não há herança, senão invertida: morto o filho, é a mãe que o retoma, que o continua, como se fosse ela o jovem rebento, a nova folha chamada a desabrochar.
(...)
E contudo, há nela toda a “emoção”, condição sem a qual não há teatro brechtiano. Vejamos a representação de Helene Weigel
(mulher de Bertolt Brecht e que interpretou "A Mãe" em 1932)
, que tiveram a ousadia de achar demasiado discreta, como se a maternidade não fosse senão uma força de expressão: para receber de Pavel a própria consciência do mundo, ela torna ‑se, em primeiro lugar, “outra”; no princípio, ela é a mãe tradicional, a que não compreende, que reprova um pouco, mas que serve obstinadamente a sopa, que passaja a roupa; ela é a Mãe ‑Criança, isto é, toda a espessura afectiva da relação está preservada. A sua consciência só eclode verdadeiramente quando o filho morre: ela nunca se junta a ele. Assim, ao longo de todo esse amadurecimento, uma distância separa a mãe do filho, lembrando ‑nos que esse itinerário justo é um itinerário atroz: o amor não é aqui efusão, é essa força que transforma o facto em consciência, depois em acção: é o amor que abre os olhos. Será, então, preciso ser ‑se “fanático” de Brecht para reconhecer que este teatro queima?

* Excerto de “Sobre A Mãe de Brecht”. In A Mãe. Almada: Companhia  de Teatro de Almada, 2010.
(Textos d’Almada; 40). p. 20 ‑21. 
As 2h30 passaram  sem que se desse conta, é uma história de luta, de esperança que nos faz acreditar no poder da união, na luta de classes e que essa luta não tem idade. Pelagea Vlassova era imagem da força, da persistência que não se deixou derrubar pela morte do filho e que continuou a lutar por aquilo em que acreditava até ao fim... Teresa Gafeira vestiu "A Mãe", a meu ver, de alma e coração!

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Destruição

Procuro-te na escuridão deste quarto,
deixo-me guiar no breu pela imaginação da tua respiração, a cada canto inverso ao meu,
tento tocar-te, mas escapas-me sempre,
foges com altivez, não deixas rasto.
Caio inúmeras vezes,
tropeço nas cadeiras antes inexistentes,
nos candeeiros de pé que se quebram.a meus pés.
Sinto que neste escuro tudo que me rodeia é destruição
e nem sinal de ti a não ser a respiração que juro ouvir...
Sinto o teu cheiro presente,
começo também a perceber a tua malícia,
o teu gosto em ver tudo aquilo que eu não consigo ainda ver (sem luz).
Imagino-te a sorrir neste momento...
agora que me encontro no chão a tentar fugir dos cacos espalhados.
Percebo que tenho sangue nas mãos,
mas não sinto dor,
a única sensação é a sofreguidão em tocar-te,
é querer a todo o custo que sejas tu a acender a luz,
a acabar com esta tortura...
sorridente como sempre,
ironicamente preocupado assim que as luzes te desvendam o rosto.
E eu acredito na tua bondade...
mais uma vez...
Até um dia!!

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Electra

"As cenas são descoladas e aparentemente sem relação ou objectivo comum, no entanto, vão desvendando uma espécie de personagem misterioso.
É como se houvesse uma inquietação latente naquela mulher, onde cada momento e cada lugar por onde passa tanto são acrescentados como anulados pelos que se seguem.
Cada cena, cada passagem tem uma força estranha, uma vivência e uma certeza que se instala desde o primeiro gesto.
As acções banais entre as cenas carregam a carga do que acabou de fazer, tornando essas acções, também elas, em cenas.
É uma mulher que não pensa nem sente. Ela tortura-se, obriga-se, anula-se...
Castiga-se a passar o tempo congeminando uma nova forma de agir, de estar, de se lamentar, de se preparar, de lutar,... de jamais se esquecer.
Não há resignação, não há desistência, apenas por vezes uma espécie de falso e tranquilo abandono.
Ela mostra sem pudor a sua força e a sua fraqueza, a sua nobreza e a sua humilhação.
Ela é uma mulher assustadoramente presente na sua ausência.
Os seus olhares para o exterior de si são os únicos indicativos da sua espera onde o tempo não existe.
Ela nunca se expõe, apenas se dispõe."

Estas são as palavras de Olga Roriz e na verdade se as lermos antes de assistirmos a "Electra", talvez alguns momentos se expliquem, bem como se lermos um pouco da história da Electra da mitologia grega, mas a verdade é que nem tudo se poderá entender da forma que a interprete quis demonstrar.
A minha expectativa para este Solo, depois de ter visto no Dancem!09 Paraíso e Inferno da autoria da mesma Olga Roriz, era muito elevada. Reservei bilhetes para a estreia com a devida antecedência e estava expectante, até que depois de ler o que escreveu o meu amigo Mister fiquei desiludida mesmo sem ver. Porquê? Porque tenho a certeza que ele não teceria um comentário mau, se aquilo que viu lhe despertasse algo bom.
Por razões óbvias e muito minhas, não desistiria de ver por essa razão, pois tenho consciência que as opiniões podem divergir. No entanto, isso fez com que não levasse as pessoas que esperava levar, pois saberia que também elas não iriam entender o que eu teria visto de tão bom para recomendar Olga Roriz.
Electra não me encantou, apesar de em algumas partes admirar a rectidão de movimentos que fazia, devidamente estudados para demonstrar a angústia, a espera, a revolta... a técnica não está em questão, mas para mim, em vários momentos a ausência de movimentos poderia ter sido feita de outra forma... chega a cansar e não nos brinda com algo, que a meu ver, dignifique o seu nome.
A minha companhia também não ficou maravilhada, mas naquela estreia no Teatro Nacional São João, ninguém saiu da sala e aplaudiram bastante a artista, inclusive com vários Bravos atrás de mim!
Não deixa de ter mérito por não me ter agradado em Electra e continuarei a ver espectáculos assinados pela mesma, porque na verdade o conceito de "arte" é relativo e sinceramente não me parece a mim, que a maioria dos espectadores consiga compreender o que esta "Electra" nos quis transmitir...
Continuemos para o próximo. Esta sexta com " A Mãe" de Brecht!

Bom dia, não é da Tourline Express!!

E hoje, assim só porque acordei mais uma vez com o serviço de despertar da Tourline Express, decidi dedicar-lhe este post.
Não porque admire as competências desta transportadora, mas sim porque a sua incompetência é tanta, que merece os minutos que aqui vou perder.
Tudo começou porque gostava de um rapaz que tinha um 91! Como não falávamos tanto quanto eu desejaria, decidi comprar um cartão da Vodafone para que as chamadas ficassem mais baratas. Resultou... passei a receber mais chamadas dele, mas comecei também a receber chamadas de todo o país e às vezes até de Espanha.
Tudo porque peguei naquele específico pacotinho com um número que era exactamente igual ao de uma transportadora com sede em Madrid de seu nome, Tourline Express.
Pergunto-me porque é que os números de Madrid têm de começar por 91??
De início não percebia bem, até pensei que eram aquelas chamadas de brincadeira, mas depois percebi que para ser uma brincadeira, várias pessoas, de várias cidades, tinham decidido brincar especificamente comigo. Não batia certo!!!
Um dia, depois de atender mais uma chamada "É da Tourline Express?" Eu respondo "Não!!! Mas já agora podia dizer-me como obteve este número?"
Então a pessoa explicou-me que tinha visto na internet que para reclamar a encomenda que deveria já ter recebido, eles indicavam o meu número com a indicação "Porto" em baixo.

Ora vamos dizer que estas pessoas é que são tolinhas por acharem que um 91 seguido de 7 algarismos e com indicação Porto, Lisboa, Freixo de Espada à Cinta e afins, podia lá ser um número da Vodafone?? Nunca!! Deviam logo perceber que a indicação da cidade se refere que o atendimento será feito com um sotaque de cada região e que por ser de uma empresa de Espanha, as pessoas saberiam logo que têm de marcar 0034!
Eu, na minha boa fé, pesquisei na internet o email da empresa e escrevi com educação, explicando o que estava a acontecer e pedindo encarecidamente que tivessem a atenção de sempre que colocassem aquele número, usassem o indicativo do país.
Respondeu-me uma espanhola toda despachada, dizendo que de facto eles tinham aquele número, mas que era um número de Madrid e não percebia porque é que eu é que recebia as chamadas... Burra ou espanhola, não sei bem o que pensar?
Certo é que também recebi várias chamadas de Espanha que por verem a indicação Portugal se davam ao trabalho de colocar o 00351... de loucos não??!
Não resultou o meu email... escusado será dizer que as chamadas não pararam e que por outras 4 vezes enviei emails aos quais não obtive resposta.
No último chamei-os pelo nome: "incompetentes, burros, prestadores de mau serviço", acabei por perguntar se gostavam que lhes pedisse para me pagarem o serviço que lhes presto, por consideração às pessoas que me ligam e às quais digo que têm de marcar o indicativo de Espanha??!! Algumas ligam de novo "Desculpe, sabe-me dizer o indicativo de Espanha?" (sim, é verdade)
Pensei em tornar este, um número de valor acrescentado, mas depois desisti da ideia.
Na época de Natal é uma verdadeira festa. Em vez de ter amigos a desejar-me "Bom Natal!" tenho pessoas a perguntar-me "Quando é que vai chegar a encomenda para...??", claro que muitas vezes terminamos com o delicado "Bom Natal e Bom Ano" porque é época de amizade e amor.
Como moro sozinha e passo muito tempo só, por vezes estas chamadas quebram o silêncio e dão uma agitação ao dia! Às vezes imagino como são as pessoas do outro lado... é como tentar adivinhar a cara de um locutor de rádio.
Lembro-me de um dia, depois de ter sido operada e numa fase em que quase não podia sair de casa, recebi uma chamada de um homem com uma voz "inspiradora", tivemos ainda um tempo à conversa, ele voltou a ligar dizendo que tinha alertado a empresa e que esperava que aquilo não voltasse a acontecer! Muito querido e não deixei de sorrir!
Lembro-me também de uma senhora dos seus 60 anos(digo eu) que estava à espera de uma planta que lhe tinham enviado pela transportadora e ela estava muito preocupada, pois estava prestes a ser operada e como morava sozinha não sabia o que fazer caso a planta não chegasse antes de ela ir para o Hospital. Era uma senhora tão doce, tão querida... lembrou-me a minha avó; eu tentei explicar à senhora que tinha de marcar o "tão falado" 0034 antes do número indicado. Ela pediu-me imensa desculpa e eu desejei que ela recebesse a planta antes de ser operada e que entretanto a operação corresse bem.
Há outros dias em que não estou tão bem disposta e não me apetece sequer explicar nada a ninguém. Tenho amigos que me chamam "Neura", porque muitas vezes não atendo números que não conheço!
Pudera...
Já tive casos em que as pessoas do lado de lá, bastante irritadas depois de eu só atender à décima chamada e ter desligado outras tantas, quase me insultaram antes de qualquer coisa... outras vezes apetece-me fazer o contrário... Certo é que não me posso queixar de que o meu telefone não toca... toca sim, só que muitas vezes não é para mim!

Nota: hoje apercebi-me que o slogan da empresa é "Tourline Express: Como si lo llevarás tú mismo", Pessoas que não sabem de onde vêm, nem para onde vão?! :-)