"Eu quero, e tu?"
Contracapa do Livro do Desassossego
Todos gostamos de dizer que somos generosos e desprendidos, mas se nos analisarmos com objectividade, chegaremos à conclusão que o primeiro amor, a primeira generosidade, a grande preocupação é por nós mesmos. Quando o "eu" tem tudo, quando o "eu" está contente, então começamos a ser generosos com os outros. A ninguém amamos tanto como nós mesmos; somos o nosso grande amor.
Quando estamos apaixonados, não amamos porque nosso carinho dá felicidade à outra pessoa, mas sim porque isto nos traz felicidade. Se se trata de defeitos, julgam-nos sempre isentos deles. Se são virtudes, estão tacitamente incluídas na opinião que formamos de nós mesmos.
Raramente temos a coragem de perguntar: "Por que estou fazendo isto? Por mim ou pelos outros?" Sempre a consciência nos responderia: "Por ti; se não te agradasse e não te desse vantagem, nada farias."
Os mais generosos são culpados deste pecado. E os que o ignoram ou negam, é porque não possuem o valor e a coragem de reconhecê-lo.
"Orphée et Eurydice é uma obra poderosa, excessiva, habitada por vagas de humor. Fascinada pelo corpo até nas suas manifestações mais íntimas e secretas, a coreógrafa Marie Chouinard concebeu uma “dança exploratória” que ousa o desregramento do corpo, a desmesura, executada por intérpretes que nisso se empenham totalmente. Esta dança demoníaca expõe as origens viscerais da criação. Sopros, gritos, vogais, consoantes desenraízam-se do orgânico como uma infra-língua extraída do âmago do corpo. Não é um mito sobre o amor. Não se procure aqui uma só Eurídice, um só Orfeu; eles são múltiplos, no número e no género."
"Na ambivalência do ser, permanece em desassossego Fernando Pessoa. “Não possuímos nem o corpo nem uma verdade – nem sequer uma ilusão. Somos fantasmas de mentiras, sombras de ilusões, e a nossa vida é oca por fora e por dentro.”* Ainda assim, atravessados pelo olhar de Paulo Ribeiro, soltamos um riso largo ao aperto mais amargo. E na negação constante da lógica, desenha‑se uma ilha habitada por um povo inquieto de músculos, sangue e nervos."Uma dança/representação ao som dos 24 Prelúdios de Chopin interpretada por Pedro Burmester. Deste último restava apenas o piano ao qual deu uso noutros locais... noutros, mas não no Porto! Pelo menos enquanto o Rui Rio for presidente da Câmara do Porto. E depois de mais um fim-de-semana de Circuito da Boavista, nem a mim me apetecia vir ao Porto...
"O que existe antes da sombra? O que resta depois da sombra? Philippe Decouflé faz de Sombreros um território de experimentações. Um cenário que muda graças à magia das projecções, um jogo do gato e do rato entre o virtual e o real da coreografia, um deslocamento musical entre a partitura de Brian Eno e as criações sonoras de Sébastien Libolt, fazem com que esta obra tenha a extrema elegância de transportar o espectador de uma noite para um outro mundo."Fiquei maravilhada com este espectáculo. Confesso que não esperava algo tão bom, não esperava que o jogo de luz, sombra, dança, vídeo funcionasse com a perfeição a que pude assistir. Por momentos lembrei "Pilobolus", mas chego a arriscar que aquela 1h20 me surpreendeu mais que o próprio espectáculo de Pilobolus! Dos músicos, aos bailarinos, do desenho de luz à operação de vídeo, foram todos maravilhosamente bons! Agora aguardo com grande expectativa Maiorca e Orphée et Eurydice. Obrigada S. por me ter sugerido ir a 5 espectáculos.